Uma carismática apresentadora, debatedora eloquente e tradutora rigorosa – são funções que, à primeira vista, raramente são desempenhadas por uma jovem na casa dos vinte anos, no entanto, Chan Sio Kuan, estudante do quarto ano do curso de Estudos Portugueses na Universidade de Macau (UM), consegue desempenhá-las com sucesso. “Três minutos no palco, três anos de trabalho nos bastidores”, nesta edição da revista “My UM”, entrevistámos esta jovem que se tem realizado continuamente na aprendizagem do português, observando como desenvolveu as suas competências no mundo da língua portuguesa.
A única mestre de cerimónias que domina “três línguas e quatro idiomas”
No final de Agosto, no palco da Aula Magna da Universidade de Macau, realizou-se uma grandiosa gala estudantil intitulada “Dançar ao Ritmo da Juventude: Espectáculo de Variedades de Estudantes por ocasião da Dupla Celebração”. 1100 alunos oriundos de universidades como a Universidade de Pequim, a Universidade Tsinghua, a Universidade de Zhejiang e a Universidade de Macau apresentaram-se em conjunto para celebrar o 75.º aniversário da fundação da República Popular da China e o 25.º aniversário do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau com uma variedade de apresentações de música e dança.
Os holofotes iluminavam Chan Sio Kuan, que representava a UM como mestre de cerimónias. Fluente em português, foi a única apresentadora da noite capaz de conduzir o evento em mandarim, cantonês, inglês e português. Ela expressou as suas felicitações à nação e a Macau numa das línguas oficiais de Macau, o português, interagindo de forma animada e cativante com os seus co-apresentadores das três universidades em mandarim, cantonês e inglês, satisfazendo assim as necessidades linguísticas dos convidados na plateia. A sua escolha cuidadosa de palavras, o uso adequado do tom e a sua confiança deixaram uma boa impressão nos espectadores.
Após o espectáculo, a orientadora de colégio residencial, Doutora Vénus Viana, responsável pela coordenação dos mestres de cerimónias, elogiou o seu notável desempenho no palco. No entanto, nada disto foi por acaso; a preparação meticulosa teve um papel crucial. Podia-se ver que o seu guião estava repleto de marcadores fluorescentes de quatro cores, representando respectivamente o português, o mandarim, o cantonês e o inglês, facto que reflectiu o esforço que dedicou a memorizar as falas. A experiência acumulada como mestre de cerimónias também contribuiu para a sua confiança. Ela disse: “O português é uma das línguas oficiais de Macau, e muitas actividades oficiais na universidade requerem mestres de cerimónias que falem português, daí ter tido muitas oportunidades para mostrar o que aprendi, ganhar confiança e aprender técnicas de apresentação.” Uma talentosa apresentadora em português está em ascensão.
Competindo em debates universitários em Portugal
Ao longo dos anos, a Universidade de Macau tem formado muitos quadros qualificados bilíngues em chinês e português, bem como especialistas em Direito em Português, sendo uma das maiores bases de ensino de português fora de Portugal e Brasil. Chan Sio Kuan acredita que a UM proporciona um excelente ambiente para aprender português, não só permitindo que os alunos adquiram conhecimentos básicos nas aulas, mas também muitas oportunidades de aplicação prática, o que é essencial para o rápido progresso do nível de português dos iniciantes.
Desde o primeiro ano da sua licenciatura, Chan Sio Kuan soube tirar partido dos recursos de aprendizagem de português disponíveis na UM. Ela gosta de passar tempo na zona de aprendizagem de português da biblioteca a ler livros e jornais; frequentemente conversa com os professores de português, trocando opiniões sobre notícias e eventos actuais. Ela afirma que que o ponto de viragem para o seu rápido progresso na língua foi juntar-se à equipa de debate em língua portuguesa da UM. Desde o momento em que subiu ao palco para debater, as suas habilidades de oratória melhoraram em vários níveis; não só a sua expressão oral se tornou mais fluente, como também desenvolveu a sua capacidade de argumentação. A equipa de debate em língua portuguesa que lidera tem vencido várias competições. No terceiro ano, como estudante de intercâmbio na Universidade de Coimbra, Chan Sio Kuan aproveitou a oportunidade de se juntar à sociedade de debates da universidade. Entre risos, afirmo que, para além de “ansiar por demonstrar as suas capacidades”, também desejava “desafiar-se a si própria e experimentar debater com estudantes cuja língua materna é o português”.
O formato de debate nas universidades portuguesas difere do tradicional modelo de defesa e oposição em Macau, adoptando o formato de debate do Parlamento Britânico, que inclui o governo da Câmara Alta (primeira equipa de defesa), a oposição da Câmara Alta (primeira equipa de oposição), o governo da Câmara Baixa (segunda equipa de defesa) e a oposição da Câmara Baixa (segunda equipa de oposição), totalizando quatro equipas. Chan Sio Kuan disse: “Este formato proporciona uma maior diversidade de pontos de vista e torna o debate mais estimulante. No palco, confrontámo-nos sobre questões políticas, usando todos os nossos argumentos para derrubar as outras três equipas, sendo um grande teste para a nossa capacidade de resposta, raciocínio lógico e expressão linguística.”
Devido ao seu desempenho excepcional, Chan Sio Kuan conseguiu qualificar-se para participar no Concurso Nacional de Debates Universitários em Portugal, o único rosto asiático nesta competição.
Desde o início, quando o seu vocabulário era insuficiente para conversas do dia-a-dia, até agora, onde consegue debater intensamente com estudantes portugueses, Chan Sio Kuan afirma que isso é o resultado de anos de esforço. Ela acredita firmemente que o ambiente linguístico pode ser criado por si mesma: “Basta ser proactivo para qualquer lugar se tornar num palco para praticar o português.”
Promover a cultura chinesa através da língua portuguesa
Durante o período de intercâmbio, esta estudante de Macau também assumiu o papel de embaixadora da cultura chinesa, ensinando os caracteres chineses aos portugueses e explicando a história, cultura e tradições da China. Chan Sio Kuan notou que muitos portugueses demonstravam interesse pela cultura chinesa e, por isso, dedicou parte do seu tempo fora das aulas a leccionar chinês no Instituto Confúcio da Universidade de Coimbra. Como alguém que começou do zero a aprender uma nova língua, ela compreende bem as dificuldades, por conseguinte, analisava cuidadosamente as necessidades dos alunos cuja língua materna é o português, abrindo-lhes as portas para a cultura chinesa de forma dinâmica e interessante.
Baseando-se na sua experiência de aprendizagem de português ao longo de vários anos e no ambiente cultural chinês que vivenciou na Universidade de Macau, Chan Sio Kuan planeou cuidadosamente o conteúdo das suas aulas. Devido às diferenças culturais entre a China e Portugal, ela acredita que muitos conceitos não podem ser traduzidos literalmente, necessitando de uma reflexão mais profunda. Por exemplo, ao ensinar caracteres chineses, Chan Sio Kuan começa pelos caracteres pictográficos, transmitindo truques para reconhecer os caracteres.
Ela explicou: “Por exemplo, ao ensinar o caractere ‘目’ (olho), eu desenho um olho no quadro, depois rodo-o 90 graus para formar um rectângulo, e peço aos alunos que imaginem que as duas linhas horizontais no meio representam a linha divisória entre a pupila e a parte branca do olho. Assim, a maioria dos caracteres com o radical ‘目’ está geralmente relacionado com a visão.”
Quem ensina, também aprende. Enquanto lecciona chinês, Chan Sio Kuan também organiza mentalmente a linguagem em português, compreendendo melhor a percepção linguística dos alunos e, com base nisso, estabelecendo um diálogo de ensino e aprendizagem. “Às vezes dou por mim a sonhar em português.”
Desenvolver a investigação em tradução comercial chinês-português
Anualmente, a “Feira Internacional de Macau (MIF)” representa uma importante oportunidade para Macau se destacar como uma plataforma de cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa (PLP). Os alunos do Departamento de Português da Universidade de Macau aproveitam a ocasião para proporcionar serviços de tradução chinês-português. Chan Sio Kuan foi seleccionada como apresentadora de língua portuguesa das actividades da MIF deste ano e, desempenhando também a função de intérprete simultânea e consecutiva em várias sessões de correspondência comercial, ajudando expositores da China e de PLPs a comunicarem e a estabelecerem parcerias. Paralelamente, ela aproveitou a oportunidade para entrevistar expositores sobre os serviços de tradução na feira, recolhendo dados para a sua tese de graduação.
Chan Sio Kuan acredita que a investigação sobre tradução chinês-português em Macau tem-se concentrado principalmente nas áreas judicial e administrativa, e que existem poucas informações detalhadas na área comercial. Dado que Macau é uma plataforma de cooperação comercial entre a China e os PLP, a discussão aprofundada sobre este tema é essencial. Assim, ela consultou o seu orientador, o Prof. Doutor Júlio Reis Jatobá, para explorar a viabilidade da investigação em tradução comercial chinês-português. Por fim, elaborou um plano de investigação com base nos seus interesses de investigação e nos alvos acessíveis: analisar o papel da “interpretação consecutiva” na comunicação empresarial entre a China e os PLP, usando a MIF como exemplo.
Sob a orientação do Prof. Jatobá, Chan Sio Kuan conseguiu identificar com sucesso duas categorias de entrevistados no local da MIF: expositores dos PLP e intérpretes chinês-português presentes. O conteúdo das entrevistas centrou-se nos problemas que enfrentam na comunicação empresarial. “Após as entrevistas, conseguimos obter uma visão preliminar: em plataformas comerciais internacionais, há exigências mais elevadas em relação à qualidade dos intérpretes, incluindo a familiaridade com a logística e as tarifas aduaneiras de diversos países e com os aspectos técnicos dos produtos das empresas expositoras. Estas informações podem ajudar a optimizar o ensino futuro da tradução chinês-português.”
Desejo de apoiar o ensino de português nas escolas secundárias
Esta conclusão preliminar levou Chan Sio Kuan a perceber que, para se tornar numa intérprete de excelência, além de ter uma base sólida de habilidades de tradução, é necessário ter um amplo conhecimento empresarial especializado e uma compreensão das várias dinâmicas sociais. “Por exemplo, é importante estar a par dos desenvolvimentos mais recentes em Macau, como o metro ligeiro, o planeamento urbano e o novo bairro de Macau. Se nunca tiver estudado estas terminologias, a tradução será extremamente difícil.”
Ao reflectir sobre o seu tempo de estudo na Universidade de Macau, Chan Sio Kuan considera que o debate foi uma das melhores formas de aprimorar as suas habilidades linguísticas. Por isso, deseja que a cultura do debate em português se estenda às escolas secundárias. Ela está disposta a contribuir neste sentido, apoiando a criação de equipas de debate nas escolas e ajudando a organizar competições interescolares. Ela espera que: “Seja em aulas regulares ou em actividades extracurriculares, o objectivo é primeiro plantar a semente do português nas escolas secundárias e, em seguida, deixar que o debate em português comece a florescer, enriquecendo o solo para a aprendizagem da língua.”
Texto / Kelvin U e, Wang Chuyue, Repórter Sénior da UM
Fotografia / fornecido pelo entrevistado
Tradução para português / Chan Sio Kuan
Fonte: My UM Issue 139
Chan Sio Kuan
Chan Sio Kuan (à esquerda) e os seus colegas mestres de cerimónias da Universidade de Pequim, da Universidade de Tsinghua e da Universidade de Zhejiang
Chan Sio Kuan (à esquerda) e os seus companheiros que participaram no Torneio Nacional de Debate Universitário em Portugal
Chan Sio Kuan apresentou os recursos de aprendizagem de português da UM durante uma entrevista à Televisão Central da China
Chan Sio Kuan trabalhou como apresentadora portuguesa na cerimónia de abertura da MIF
Chan Sio Kuan entrevistou expositores de países de língua portuguesa na MIF