Há 18 anos, Manuel Guilherme Júnior, proveniente de Moçambique, valendo-se das relações amistosas entre a China e os países de língua portuguesa, deslocou-se para a Universidade de Macau (UM) prosseguir estudos mais avançados. Após a graduação, regressou ao seu país, onde tem posto em prática os conhecimentos que adquiriu, e promovido activamente o desenvolvimento do ensino superior da sua terra natal. Após anos de esforços, o antigo aluno da UM é actualmente o reitor da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a maior e mais antiga instituição de ensino superior em Moçambique. Desta vez, visando alavancar a cooperação entre instituições de ensino superior na China e nos países de língua portuguesa, o reitor Guilherme Júnior voltou para a sua alma mater para aprofundar a cooperação no ensino e na investigação entre as duas universidades. Também aproveitou a oportunidade para se encontrar com a sua orientadora de dissertação, relembrando os momentos do seu período formativo na UM.

Prosseguir estudos em Macau à bolina das crescentes relações entre a China e os países de língua portuguesa

Depois de obter a licenciatura em Direito, Guilherme Júnior considerou continuar os seus estudos no estrangeiro para alargar a sua visão internacional. Teve os seus olhos postos em Macau porque sabia que, desde o regresso à China, o território tinha vindo a envidar esforços para elevar as relações entre a China e os países de língua portuguesa a um novo patamar, tendo desempenhado o importante papel de ligação na cooperação entre as duas partes. Ele acreditava que estas relações amistosas seriam benéficas para os alunos dos países de língua portuguesa, com as quais poderiam não só promover o desenvolvimento profissional pessoal, como também realizar os seus contributos para as trocas económico-comerciais entre as duas partes.

Por feliz acaso, no ano lectivo de 2006/2007, a UM lançou um novo curso de mestrado em direito comercial internacional. Como Guilherme Júnior nutria grande interesse por essa área, decidiu enveredar para Macau para continuar os seus estudos. Ele explicou, “as considerações jurídicas são indispensáveis nas trocas económico-comerciais internacionais. Este curso de direito permite-me reflectir sobre as relações de Macau com Moçambique e com outros países de língua portuguesa, do ponto de vista jurídico e comercial”. Guilherme Júnior acrescentou ainda que o segundo Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa teve lugar em Macau pouco depois de começar os seus estudos neste território. Através desse evento, conheceu amigos de outros países de língua portuguesa, inteirando-se dos laços estreitos entre Macau, o interior da China e o mundo lusófono, nas áreas económica e comercial.

Como um dos primeiros graduados do referido curso, Guilherme Júnior considera que o curso muniu-o com os conhecimentos para analisar em profundidade a legislação e normas internacionais vigentes na União Europeia, no mundo global, no interior da China e nas regiões de Hong Kong e Macau, tendo-lhe facultado uma base sólida para os seus estudos jurídicos futuros.

De regresso à UM

O recente regresso de Guilherme Júnior à UM permitiu-o sentir as transformações e avanços que a alma materconheceu. Ainda se recorda dos tempos em que tinha que subir à colina na Taipa, onde se localizava o antigo campus da UM. Durante esta visita, ficou muito impressionado ao ver o vasto e verdejante campus da universidade situado na Ilha de Hengqin. Uma das surpresas que Guilherme Júnior verificou na UM foi encontrar a cópia física da sua dissertação de mestrado na base de dados de dissertações e teses da biblioteca, descoberta esta que o deixou profundamente emocionado. O antigo aluno da UM explicou, “fico impressionado por não só poder aceder à minha tese online, mas também por ver a cópia física tão bem preservada. A gestão meticulosa da colecção da biblioteca da UM realmente constitui um exemplo a seguir”.

Vislumbrar a sua dissertação evocou em Guilherme Júnior memórias da vida de estudante na UM, levando-o a fazer uma visita especial à Faculdade de Direito para se reunir com a sua orientadora de dissertação, que é também a subdirectora desta faculdade, Professora Doutora Wei Dan. Os ensinamentos e o estilo de ensino rigoroso da Professora Doutora Wei ainda se encontram bem presentes na mente de Guilherme Júnior, que afirmou, “a Professora Doutora Wei era muito séria e nunca baixava os seus padrões. Dava muita importância à pontualidade, pelo que os alunos chegavam sempre a horas às suas aulas. Sempre que enfrentava desafios na minha investigação, ela estava lá para me dar orientação e direcção claras”.

Na altura, Guilherme Júnior estava muito interessado no sistema de Bretton Woods. No entanto, não era fácil analisar em profundidade o impacto da ordem monetária e financeira internacional criada por este sistema nos países em desenvolvimento. Sob a orientação da Professora Doutora Wei, Guilherme Júnior realizou uma análise comparada de casos de diferentes países, tendo observado como os litígios comerciais decorrentes da globalização económica foram resolvidos através do direito internacional. Esta investigação tornou-se numa fonte de referência valiosa.

O reitor da universidade moçambicana partilhou, “a Professora Doutora Wei ensinou-me como desenvolver estudos jurídicos e a importância do espírito científico de que um académico deve dispor. Os meus estudos na UM revelaram-se muito benéficos para o meu subsequente desenvolvimento académico e profissional”.

Dedicar-se ao ensino superior de Moçambique

Concluídos os estudos na UM em 2008, Guilherme Júnior regressou a Moçambique e reintegrou-se na UEM onde já era docente, instituição de ensino superior com a história mais longa e a maior dimensão do país, e confirmou  exercer funções de docente e de investigador. Foi desde então que o académico se empenhou em estudar assuntos jurídicos internacionais com recurso à investigação académica, tendo elaborado diversos artigos, incluindo os de “Protecção Jurídica do DUAT em Moçambique” e de “Acordos Multilaterais Ambientais e a Facilitação do Comércio Internacional”, alguns dos quais foram publicados na Revista de Ciência Jurídica de Macau da Faculdade de Direito da UM, e publicou 3 livros.

A dedicação de Guilherme Júnior à UEM ao longo dos anos foi reconhecida e elogiada. Para além de exercer funções de docente na Faculdade de Direito, foi também director do Centro de Estudos sobre o Direito da Integração Regional da SADC e director do Gabinete de Cooperação desta universidade, envidando os seus esforços para promover o desenvolvimento da mesma. Adicionalmente, exerceu também as funções de director da Faculdade de Ciências Sociais e Humanidades na Universidade Zambeze e de coordenador do curso de direito na Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica de Moçambique, contribuindo assim para o aumento da qualidade pedagógica das instituições de ensino superior do país.

Apesar de ocupar cargos importantes, Guilherme Júnior mantém-se empenhado no desenvolvimento pessoal e profissional, tendo obtido o grau de doutor em Direito na UEM em 2019. Ele acredita que é a sua responsabilidade como cidadão servir a pátria com recurso aos seus conhecimentos e perícia.

Em 2022, foi nomeado pelo presidente da República de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, como reitor da UEM. Enquanto líder desta universidade, tem promovido activamente as reformas internas da instituição e impulsionado a inovação no ensino e a internacionalização curricular, para além de procurar expandir parcerias com instituições de ensino superior estrangeiras, no sentido de disponibilizar aos alunos uma plataforma de aprendizagem alinhada com o padrão internacional. A recente visita a Macau foi um passo crucial na estratégia de internacionalização de Guilherme Júnior, como também no aprofundamento da cooperação entre universidades na China e nos países de língua portuguesa.

Aprender do modelo educativo e de gestão da UM

Passadas cerca de duas décadas após a sua graduação da UM, o reitor da UEM regressou à sua alma mater com uma delegação composta por dirigentes académicos e administrativos da sua universidade. Visitaram a Faculdade de Direito, a Faculdade de Gestão de Empresas, o Colégio Memorial Moon Chun, o Gabinete para as Tecnologias de Informação e Comunicação, entre outras unidades, com o objectivo de conhecer o modelo educativo internacional e de gestão da UM.

Nas palavras do reitor, “depois da mudança para o novo campus, a UM alcançou um desenvolvimento significativo, com instalações de ensino completas e de ponta. Por isso, viemos à UM para aprender, particularmente sobre o seu modelo de gestão digitalizada e modernizada, esperando também obter apoio técnico da UM”.

Durante a visita, Guilherme Júnior reuniu-se com o reitor da UM, Professor Doutor Song Yonghua, e o vice-reitor, Professor Doutor Rui Martins. As partes trocaram opiniões sobre a cooperação académica, a gestão e desenvolvimento universitários, entre outros assuntos, tendo assinado um memorando de entendimento, com vista a fortalecer ainda mais a cooperação e o intercâmbio entre as duas instituições nos domínios de investigação académica, formação de talentos e de intercâmbio do pessoal.

Guilherme Júnior descreveu a visita como muito encorajadora, acreditando que o aprofundamento da cooperação pode melhorar o nível de internacionalização do ensino em ambas as universidades. O reitor explicou, “como antigo aluno da UM, espero que no futuro haja mais estudantes e docentes a prosseguir estudos na UM. Como reitor da UEM, acredito que esta visita constitui uma iniciativa importante na estratégia de expandir parcerias estrangeiras da nossa universidade, sendo benéfica para elevar a qualidade do ensino superior em Moçambique”.

Formar estudantes com visão global

O reitor Guilherme Júnior destacou que a UM possui um ambiente académico intercultural muito dinâmico e que ele próprio também vivenciou o conceito de “aldeia global” nas aulas: alunos de países africanos, de Portugal, do interior da China e de Macau reuniram-se para interagir com docentes da Faculdade de Direito, igualmente provenientes de diferentes partes do mundo. Ele ainda se recorda vividamente daquela animada troca de opiniões. Nas suas palavras, “a sala de aula era como um microcosmo do mundo. Aprender com professores e colegas de diferentes lugares e contextos culturais alargou a minha visão do mundo e a minha forma de pensar”.

É devido a esta experiência de estudo na UM que o reitor Guilherme Júnior defende a necessidade de cultivar nos alunos uma visão global e competências interculturais. Ele acredita que um dos objectivos do ensino superior reside em lidar com os problemas com que toda a humanidade se depara. Sobretudo nesta época afectada pelo aquecimento global e marcada pela inteligência artificial e tecnologias digitais, torna-se ainda mais crucial formar nos alunos um forte sentido de responsabilidade, para que estes tenham a coragem de realizar os seus contributos para o desenvolvimento da África e de todo o mundo.

Assim sendo, a filosofia educativa de Guilherme Júnior não só enfatiza a ligação dos estudantes à sociedade e ao mundo, como também dá importância ao desenvolvimento da integridade e da honestidade. Embora sejam essenciais o nível académico e a capacidade de investigação, ele acredita que o sentido de responsabilidade, o espírito de respeito pela legislação e disciplina, a integridade e a empatia para com os outros são valores nucleares igualmente importantes na educação universitária. O professor explicou, “estas são algumas das reflexões que obtive na UM: adquirir conhecimentos para o bem, ter aspirações e melhorar o bem-estar para o mundo”.

Servir como ponte de amizade entre a China e os países de língua portuguesa

Como diz um provérbio chinês: é preciso dez anos para uma árvore crescer e cem anos para formar uma pessoa. A formação das pessoas é como um “efeito borboleta”. Muitos anos atrás, Guilherme Júnior chegou a Macau à bolina das relações amistosas entre a China e os países de língua portuguesa, tendo difundido a música africana por todo o Edifício da Ásia Oriental da UM. Hoje, ele já se tornou numa ponte de amizade entre a China e os países de língua portuguesa, contribuindo para o desenvolvimento conjunto do ensino superior nesses países envolvidos.

A visita de Guilherme Júnior à sua alma mater não só reforçou o consenso de cooperação entre a UEM e a UM, como também favoreceu a criação de uma parceria internacional sustentável e abrangente entre as duas universidades. Ele salientou, “esta parceria estreita não só beneficiará o desenvolvimento a longo prazo de ambas as instituições e a expansão das respectivas vantagens no ensino, como também proporcionará mais oportunidades de intercâmbio académico e cooperação em investigação aos docentes e alunos das duas universidades, resultando numa situação de benefício mútuo. Espero que os alunos valorizem o seu tempo de aprendizagem para se prepararem bem, realizando os seus contributos para o desenvolvimento conjunto da China e dos países de língua portuguesa no futuro”.

Texto / Kelvin U e, Zhang Jiahe, Repórter Sénior da UM
Fotografia / Jack Ho, Conselho Editorial
Tradução para português / Equipa de Serviços Linguísticos
Tradução para inglês/ Bess Che

Fonte: UMagazine Edição 30